Um mês depois do acidente que vitimou 12 portugueses numa estrada em França, aumentam os alertas contra o transporte de emigrantes em carrinhas sobrelotadas.
Manuel Cardia Lima, conselheiro das comunidades portuguesas na área consular de Lyon, sublinhou à Lusa que, nos diversos eventos em que participa, tem
"chamado a atenção para estas condições de transporte, porque não se admite que, no século XXI, as pessoas viajem em condições do outro mundo".
Na reunião dos conselheiros das comunidades portuguesas, que vai decorrer de terça a quinta-feira, em Lisboa, Manuel Cardia Lima pretende questionar o secretário de Estado das Comunidades para ver se há forma de fiscalizar este tipo de transporte.
"No verão, nos meses em que há a colheita da fruta, a cerca de 150 quilómetros de Lyon, também se ouve falar nessas carrinhas. Vou deslocar-me a essa região para sensibilizar as pessoas", acrescentou.
Isidoro Fartaria, cônsul-honorário de Clermont-Ferrand, também aproveitou a eleição da Miss Portugal Clermont-Ferrand, há uma semana, para
"apelar à comunidade portuguesa para não embarcar nessas carrinhas que andam por aí a fazer um tráfico humano".
"Eu chamo-lhes os náufragos da estrada tal como os que afogam no mar. Pedi à comunidade portuguesa para não ir nessas camionetas, camiões ou carrinhos que andam aí a fazer viagens entre a Suíça, a França e Portugal. Muitas vezes os preços equivalem aos de voos" de companhias de baixo custo, afirmou.
O cônsul-honorário disse, ainda, que gostaria de organizar uma viagem para visitar a comunidade portuguesa de Fribourg, na Suíça,
"para dizer às pessoas que parem de usar esses carros que as levam para a morte".
A associação Cap Magellan também vai alertar para
"os perigos deste tipo de transporte alternativo" durante a campanha de segurança rodoviária que realiza anualmente no verão, afirmou à Lusa Luciana Gouveia, delegada-geral da associação de jovens lusodescendentes.
A dirigente associativa sublinhou, por outro lado, que
"há sempre diversas realidades, como os carros ligeiros sobrecarregados ou as crianças na parte de trás sem cintos de segurança".
"As carrinhas são uma realidade que sabemos que existe. Quando estivermos nas fronteiras, se virmos este tipo de transporte iremos abordar os condutores e alertar para o perigo que não têm a noção que estão a correr e a fazer correr às pessoas que transportam. Em segundo lugar, a mensagem geral de prevenção vai ter uma parte sobre esta realidade e esperamos participar numa diminuição da existência deste tipo de transportes", declarou.
Entretanto, a vice-procuradora de Moulins, Jeanne-Chantal Capiez, explicou à Lusa que
"o inquérito continua" e que
"ainda é muito cedo para conclusões", aguardando-se
"os resultados da análise ao veículo acidentado, que ainda não foi feita, e a entrega dos processos verbais".
A representante do Ministério Público francês não adiantou prazos para a conclusão do inquérito, afirmando apenas que o condutor e o proprietário do veículo envolvido no acidente de 24 de março
"continuam detidos" e que
"a duração da prisão preventiva é de quatro meses, mas pode ser renovada".
O motorista e o proprietário do veículo, ambos portugueses, estão em prisão preventiva desde 04 de abril, acusados de homicídio e de ferimentos involuntários agravados.
As 12 vítimas portuguesas do acidente viviam na Suíça e iam para Portugal passar a Páscoa numa carrinha com seis lugares mas que transportava 13 pessoas.
Agência Lusa